O post de hoje começa com
mais uma edição de jornal do início do século XX, e desta vez nos direcionaremos
a cidade de Oliveira (MG). A edição do dia 27 de maio de 1923 do jornal local
Gazeta de Minas contém o anúncio da proibição da Festa do Rosário pelo Bispo
Dom Cabral, e expressa a opinião do autor: “ternos de homens e meninos
fantasiados, não se sabe de que, a pularem pelas ruas, ás vezes durante oito
dias, com cantos sem nexo e danças sem esthetica, debaixo do barulho
ensurdecedor das caixas e de outros instrumentos selvagens” (sim, é de ficar
chocad@ e não para por aí...). Bom, essa matéria reflete como foi a proibição
do Reinado nesta cidade.
A comemoração da Festa de
Nossa Senhora do Rosário era realizada na Praça XV de Novembro, onde se situava
a Igreja do Rosário, que, inclusive, foi destruída e em seu lugar foi
construída a Igreja de Nossa Senhora de Oliveira. Quando o Bispo Dom Cabral
proibiu a celebração, o vigário e o prefeito da cidade, que eram aliados ao mesmo
partido, fizeram uma aliança e proibiram que os festejos fossem realizados na
Praça. A partir de então o clero local buscou um distanciamento da Igreja com o
congado, e proibiu também que os reinadeiros entrassem com seus tambores dentro
da igreja.
Os participantes da festa
chegaram a ser perseguidos pelas autoridades policiais e alguns capitães de
terno chegaram a ser presos. Nesse contexto, mesmo que houvessem períodos de
resistência, o Reinado chegou a parar durante alguns anos, e alguns reinadeiros
acreditam que a forte proibição seja em decorrência da participação de adeptos
a outras religiões, como o Candomblé e Espiritismo, na comemoração.
A festa só retornou em
1950 quando uma mulher da elite local, Sinhá Saffi, teve uma visão de Nossa
Senhora do Rosário e viu como um sinal. Naquele ano a festa aconteceu no
terreiro de sua casa, custeada por ela e seu marido. Contudo, mesmo sendo
liberada pela administração local, muitos reinadeiros optaram por não voltar.
Nesse momento a comemoração se separou da Igreja Católica, mesmo que alguns
participantes anseiem por essa aproximação.
Até hoje, mesmo com
especificidades de posicionamentos, a relação dos padres locais e a Festa de
Nossa Senhora do Rosário apresenta alguns momentos de complicações. Além disso,
mesmo que tenha sido construída uma nova Igreja do Rosário, os reinadeiros
ainda consideram que a destruição da igreja antiga foi uma forma de roubar-lhes
o espaço.
Texto e imagem por: Rafaela Guimarães
Revisão e postagem: Débora Sara de Andrade Mota
FONTE:
GAZETA
DE MINAS. Oliveira, 27 mai. 1923.
REFERÊNCIA
BIBLIOGRÁFICA:
RUBIÃO,
Fernanda Pires. Os negros do Rosário: Memórias, Identidades e Tradições no
Congado de Oliveira 1950-2009. 2010. 185 f. Dissertação (Mestrado em História)
– Universidade Federal Fluminense, Niterói, 2010.
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