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História da Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos

 

            A História da Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos está intimamente ligada à história do Reinado e à história da população negra divinopolitana.

            Construída na década de 1850 por e para escravizados, a igreja tinha como principal objetivo ser um local em que os cativos pudessem professar seus credos e crenças e celebrar a festa do Reinado. Fruto da intolerância religiosa e do racismo do século XIX, a igreja se tornou um símbolo da resistência dos escravizados divinopolitanos e de seus descendentes, bem como o principal ponto de encontro e festejo da festividade.

            Sua construção está ligada à influência do então vigário da cidade, o padre Guaritá. Conforme aponta Corgozinho (2003), insatisfeito com o fato de os escravizados dançarem na Igreja Matriz do Divino Espírito Santo enquanto celebravam o Reinado, Guaritá determinou a construção de uma igreja para que estes pudessem celebrar a festa e as danças. Assim, a igreja foi erigida na década de 1850 em homenagem e honra à Nossa Senhora do Rosário, padroeira da festa do Reinado, e se manteve de pé até a década de 1950.

            Em 1957, com a morte de um importante líder reinadeiro da cidade conhecido como Zé Aristides, o então prefeito da cidade, Luís Fernandes de Souza, determinou a demolição da capela de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos. No local, conhecido como Largo do Rosário, além da igreja, havia também um cemitério de escravizados e seus descendentes e um cruzeiro datado do século XIX. Após a destruição do Largo, foi construído e erigido o moderno Mercado Municipal, que teria como principal objetivo fomentar a economia do município, ao possibilitar aos agricultores e pecuaristas da zona rural da cidade a venda de seus produtos.

            Nas décadas de 1980 e de 1990, com a mobilização de reinadeiros, comunidades locais, do folclorista Vinícius Peçanha e do então prefeito Aristides Salgado, foi construída uma réplica da capela de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos, próxima ao Mercado Municipal. A capela abriga antigas imagens de Santa Efigênia e de São Benedito, e uma imagem mais contemporânea de Nossa Senhora do Rosário. A nova igreja se tornou o principal ponto de encontro e celebração da festa do Reinado na cidade, além de ter sido tombada como patrimônio histórico material da cidade.                                                   

            Assim, a construção da réplica da igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos possibilitou a consolidação da memória, da história, da identidade cultural e das resistências e agências de reinadeiros e reinadeiras da cidade de Divinopólis.

Texto produzido por: Keversson Moura 

Revisão e postagem por: Débora Sara de Andrade Mota 


  Igreja de Nossa Senhora do Rosário do Pretos, em 28 de maio de 1957. Fonte: EmRedes. Disponível em: http://emredes.com.br/mostrafoto.php?fotoid=27989. Acesso em: 10 jun. 2021.



Fachada da Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos, 28 de maio de 1957. Fonte: EmRedes. Disponível em: http://emredes.com.br/mostrafoto.php?fotoid=27939. Acesso em: 10 jun. 2021. 




  Cruzeiro no Largo do Rosário datado de 1875, em  28 de maio de 1957. Fonte: EmRedes. Disponível em: http://emredes.com.br/mostrafoto.php?fotoid=27934.  Acesso em: 10 jun. 2021.



Terreno onde se situava o cemitério no Largo do Rosário, 28 de maio de 1957. Fonte: EmRedes. Disponível em: http://emredes.com.br/mostrafoto.php?fotoid=27937. Acesso em: 10 jun. 2021.


Referências

 

AZEVEDO, Flávia Lemos Mota de. et al. História de Divinópolis. Divinópolis: UEMG, 2019. 1 cartilha.

 

CORGOZINHO, Batistina M. S. Nas linhas da modernidade: continuidade e ruptura. Divinópolis, MG, 2003.

 

 




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