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PROIBIÇÃO DO REINADO EM DIVINÓPOLIS

 


Sobre as comemorações do Reinado, o autor que se limita a assinar com as letras M.T., escreve: “Que era ella? Religiosa ou civil? Sagrada ou profana? Christã ou pagã?”, mas ele é enfático: nada tem de dinina! Esses questionamentos marcaram o pensamento da Igreja católica no início do século XX, período marcado pela “romanização” em que as comemorações religiosas populares eram reprimidas em decorrência de um certo “padrão” imposto de Roma, e também pelo elitismo e perspectiva de que era uma festa profana. Atravessado por uma profunda indignação com os festejos, D. Cabral, o Bispo de Belo Horizonte, determinou que eles fossem proibidos a partir de meados da década de 20 do século passado. Um detalhe interessante é que a proibição deveria ser apoiada pelas autoridades policiais.

Contudo, na cidade de Divinópolis a comemoração do Reinado continuou, o que desagradava D. Cabral que enviava várias cartas aos religiosos locais evidenciando sua insatisfação. Os reinadeiros resistiram às proibições e contaram com o apoio de alguns franciscanos, como Frei Rodrigo e Frei Hilário, e nem sempre a perseguição se efetivava por parte dos policiais. Se por um lado eles contavam com a colaboração dos religiosos e autoridades policiais, por outro, eram atacados pela imprensa católica divinopolitana, como é o caso citado do jornal O Clarão, publicado no dia 01 de outubro de 1923. Além dessa publicação, este mesmo veículo de imprensa se posicionou várias vezes contra os festejos.

A medida que o tempo passou, as proibições e a visão negativa sob o Reinado ficaram mais amenas. Contudo, não deixaram de existir. Acompanhando a esteira dos acontecimentos nacionais, em 1957 a irmandade de Divinópolis foi desarticulada já que a Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos, principal local de celebrações reinadeiras, foi destruída para que se construísse o Mercado Municipal. Com essa destruição, houve uma desestabilização física e simbólica, levando a comemoração para as periferias da cidade, de forma fragmentada.

Texto por: Rafaela Guimarães 

Revisão e postagem: Débora Sara 

FONTE:

JORNAL O CLARÃO – Órgão Oficial dos Moços Católicos. Divinópolis, 01 out. 1923.

 

REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA:

LEONEL, Guilherme Guimarães. Estratégias de resistência e perspectivas de controle, coerção e tolerância às festas do Reinado em Divinópolis, MG. Revista Brasileira de História das Religiões, vol., n. 2, p. 207-245, 2008. Disponível em: https://periodicos.uem.br/ojs/index.php/RbhrAnpuh/article/view/26649/0. Acesso em: 13 jan. 2022.

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