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PROIBIÇÃO DO REINADO EM BELO HORIZONTE

 


O documento da imagem é datado de 30 de agosto de 1811, e se trata do Instrumento Público de Confirmação do Compromisso da Irmandade de Nossa Senhora do Rozario doz Pretos da Freguesia de Nossa Senhora da Boa Viagem do Curral de ElRey, sendo a Freguesia de N. S. da Boa Viagem o arraial sobre o qual a cidade de Belo Horizonte foi construída e inaugurada em 12 de dezembro de 1897 como a nova capital do Estado de Minas Gerais. Ou seja, antes mesmo de Belo Horizonte ser construída, já haviam Irmandades que celebravam o reinado.

            Quando o assunto é a proibição do Reinado em Minas, é necessário refletir sobre a capital mineira, porque é dela que partem as ordens. Nesse contexto, temos o arcebispo da diocese de Belo Horizonte, Dom Antônio dos Santos Cabral, que proíbe, em 1923, a comemoração da festa. A justificativa oficial foram as danças que iam na contramão do catolicismo proposto pelo movimento de “romanização” citado anteriormente em outro post. O arcebispo ainda completa que junto ao movimento dos corpos, vinha a bebedeira, mal vista pelos clérigos, e que se somava ao imaginário do período que vinculava o Reinado com transes e possessões.

            Para além disso, ainda é necessário ressaltar que o sentimento de nacionalismo predominante no período excluía os negros, e a proibição do Reinado está diretamente ligada a este preconceito.

            Mesmo com a determinação de Dom Cabral, a imprensa local via com bons olhos a comemoração e a própria população sentia saudades dela, já que estava tão integrada no cotidiano da comunidade. Não devemos nos esquecer do documento da imagem, que relata a presença do Reinado já em 1811. Além disso, apesar do arcebispo envolver a esfera civil, nem sempre os chefes da polícia local colaboravam e os próprios reinadeiros construíram formas de resistência à proibição, fazendo com que a tradição perpetuasse até a contemporaneidade.

Texto e imagem por: Rafaela Guimarães 

Revisão e postagem por: Débora Sara de Andrade Mota 

 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

LOTT, Wanessa Pires. Tem festa de negro em Belo Horizonte: a proibição do Reinado pela Igreja Católica no início do século XX. Revista Brasileira de História das Religiões. ANPUH, Ano XII, n. 35, p. 43-67, Setembro/Dezembro de 2019.

­­­_________________. Tem festa de negro na República Branca: Reinado em Belo Horizonte na Primeira República. 2017. 284 f. Tese (doutorado em História) – Universidade do Estado de Minas Gerais, Belo Horizonte, 2017.

 

FONTE:

ARQUIVO PÚBLICO MINEIRO Instrumento público de confirmação do compromisso da Irmandade de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos da Freguesia de Nossa Senhora da Boa Viagem do Curral Del Rei, Comarca do Sabará 30/08/1811. SG-CX.84-DOC.40.

 

 

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