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História da Banda de Musíca Santa Cecília e a Entrevista com o Maestro Carlos Silva




Para o decorrer da história da Banda de Música Santa Cecília da cidade de São Gonçalo do Pará – MG, se fez extremamente necessário a História Oral e o uso da entrevista, pois há poucos registros disponíveis sobre a história desta banda.

A história oral é uma metodologia de pesquisa que consiste em realizar entrevistas gravadas com pessoas que podem testemunhar sobre acontecimentos, conjunturas, instituições, modos de vida ou outros aspectos da história contemporânea. 1


De acordo com ALBERTI (2005, p. 11), o método de História Oral é muito importante, pois produz fontes de consulta, além de tornar também um acervo aberto a outros pesquisadores. Por muito tempo a História Oral, o depoimento, não era considerado um objeto de estudo e muito menos levava-se em conta o seu valor, considerando como algo subjetivo, uma visão parcial sobre algum acontecimento e sujeito a ter falhas.

A entrevista demorou muito para ser considerado um documento. A entrevista é um importante meio de ampliar conhecimentos sobre um certo acontecimento, em compreender através do indivíduo que nela viveu ou testemunhou, em entender como que o passado é interpretado por outros indivíduos.

As entrevistas de história oral são tomadas como fontes para a compreensão do passado, ao lado de documentos escritos, imagens e outros tipos de registro. Caracterizam-se por serem produzidas a partir de um estímulo, pois o pesquisador procura o entrevistado e lhe faz perguntas, geralmente depois de consumado o fato ou a conjuntura que se quer investigar. Além disso, fazem parte de todo um conjunto de documentos de tipo biográfico, ao lado de memórias e autobiografias, que permitem compreender como indivíduos experimentaram e interpretam acontecimentos, situações e modos de vida de um grupo ou da sociedade em geral. Isso torna o estudo da história mais concreto e próximo, facilitando a apreensão do passado pelas gerações futuras e a compreensão das experiências vividas por outros. 2

            Desta forma, esse projeto de pesquisa, com objeto principal de pesquisa a entrevista realizada com maestro Carlos Silva, da Banda de Música Santa Cecília, visa ressaltar a importância da História Oral.

           A Banda de Música Santa Cecília, de acordo com o maestro e com as narrações, ela surgiu em meados do ano de 1960, onde o Sr. Antônio Ribeiro começou a dar aula de música em sua própria residência, para formar novos músicos. Sendo assim, o Sr. Antônio Ribeiro, apresentou em sete de janeiro de 1961 a nova banda de música a comunidade.

            A banda por muitos anos, não teve locais definidos e apropriados para que pudesse ensaiar as suas músicas e formar novos músicos. Segundo o maestro Carlos Silva, em conversa com um dos entrevistadores, diz que a banda ensaiava na casa do Sr. Antônio, ou em alguma outra casa de um dos integrantes da banda naquela época. Depois de um tempo, a banda passou a ensaiar no “tanque”, uma construção que hoje é a sede da Copasa em São Gonçalo do Pará, localizado na área mais central da cidade.

           A banda conseguiu conquistar uma sede, um espaço apropriado, graças ao maestro, já falecido, Carlos Ribeiro, filho do Sr. Antônio Ribeiro. Carlos Ribeiro lutou muito para que a banda conseguisse um local devido para que a banda pudesse ensaiar, ensinar novos músicos. José Reinaldo da Silva, musicista da banda, também foi uma figura importante para que conseguissem conquistar o local que hoje é considerado a sede da Banda de Música Santa Cecília.

           A Escola de Música, sede da Banda música Santa Cecília, leva o nome de Sala José Reinaldo da Silva, uma homenagem da comunidade a quem lutou muito pela criação desse espaço que é extremamente importante. A sede foi fundada em 15 de dezembro de 1996, localizada na rua Rio de Janeiro, 80, Centro, na cidade de São Gonçalo do Pará.

        A banda, tem mais de 60 anos de história. Dentro desse período a banda nunca parou as suas atividades, mesmo com todas as dificuldades, falta de apoio da administração da cidade, falta de incentivo e falta de valorização da comunidade.

        Apesar destes empecilhos, a Banda de Música apresenta atividades musicais interruptas e que faz parte da tradição sociocultural da cidade. A banda está presente em várias atividades sociais, políticas, cívicas e religiosas, o que mostra ainda mais a importância social e cultural na comunidade. A banda se dedica principalmente as músicas nos estilos de marchas e dobrados.

        Uma característica importante sobre a banda é a questão familiar, a tradição familiar, pois muitos dos integrantes são familiares ou tem algum grau de parentesco. A banda mantém muito sua formação entre os jovens, onde são a maioria. Atualmente a banda é composta por 30 integrantes.

        Um ponto muito interessante a ser abordado é o tempo extenso que esses integrantes participam, o integrante mais velho possui 70 anos de idade e participa há 42 anos, outros participam há 36 anos e o atual maestro é integrante há 29 anos, uma de nossas entrevistadoras e também integrante da banda, tem 20 anos de idade e está fazendo parte há 11 anos. De tal modo podemos destacar a importância individual que essa banda tem para com seus integrantes.

         Para que a banda perpetue, e que essa tradição se mantenha, é muito importante que haja a continuidade dessa prática e o incentivo de jovens integrantes. Dessa maneira, crianças a partir de 8/9 anos, que já saibam ler e escrever podem ingressar na Escola de Música e consequentemente na banda de música, garantindo que essa tradição tenha a possibilidade de continuidade por muitos anos.

        Essa integração de jovens ao musical da banda, se faz ainda mais necessário quando pensamos em valorização cultural. Pois, os jovens encontram na banda um espaço próprio, de identificação, construindo individualmente e coletivamente essa identidade e possibilitando que a comunidade veja a importância sociocultural das bandas de músicas. 

Os dados até agora pesquisados nos possibilitam dizer que o fazer musical no campo das vertentes é uma tradição cuja manutenção é feita pelas corporações musicais e pela sociedade como um todo, quando reconhecem a importância de tal prática. Tradição esta, que mantêm a sua continuidade intimamente ligada à transmissão de conhecimento aos mais jovens das bandas. Pode-se pensar em um movimento de transformação cultural quando a atividade musical adquire nova nuance. Isso porque, não se trabalha apenas com a manutenção de uma tradição secular, mas também com a viabilização de uma atividade sócio-educativa capaz de influenciar positivamente a representação social sobre o fazer musical dos jovens de uma comunidade de periferia. (GONÇALVES, et al., 2009, p.7)



1 CPDOC. O que é História Oral. Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil. Fundação Getúlio Vargas. Disponível em: https://cpdoc.fgv.br/acervo/historiaoral Acesso em: 03 de agosto de 2021.

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Transcrição da entrevista



Entrevista realizada no dia 07 de julho de 2021, na própria sede da banda música. O entrevistado é o Carlos Silva, integrante há 29 anos e maestro da banda há 8 anos.



  1. Como e quando surgiu a Banda (origem, datas e contexto)?

Existem narrações que a banda surgiu em 07 de janeiro de 1960, mas eu tenho pra mim que a banda vem desde da década de 50.



  1. Qual a origem do nome?

O nome é porque Santa Cecília é padroeira dos músicos, por isso foi dado esse nome.



  1. Quem fundou e quem foram seus principais colaboradores?

A Banda de Música foi fundada em 12 de junho de 1979 tendo como 1° presidente: Álvaro Pereira de Lima, vice: Carlos Ribeiro da Silva; 1° secretário: João Francisval Neto; 2° secretário: Geraldo Russo da Silva; 1° Tesoureiro: José Reinaldo da Silva; 2° Tesoureiro: Pedro Eugênio dos Santos; Conselho Fiscal: Antônio Ribeiro da Silva, João Rodrigues de Melo e José Francisco Monteiro; Suplentes: José Siqueira Lima, Washington Ramon Mourão, Waldek José de Melo, Zilda da Silva Melo e Edivaldo Rildo de Melo. Sendo assim, esses foram os fundadores e os colaboradores desta época.



  1. Espaços onde a Banda funcionava?

Segundo o professor e maestro Antônio Oliveira da Silva, a banda funcionava na caixa d’água onde hoje se encontra a COPASA em nossa cidade.



  1. Em que eventos a Banda estava presente?

Diz o maestro que a banda estava presente em comemorações religiosas, cívicas e festas em geral.



  1. A Banda está presente em quais eventos atualmente?

Atualmente, devido a pandemia não está havendo eventos, mas continuamos os nossos ensaios todas as quintas e domingos, assim que terminar a pandemia eu creio que vai ter muitos eventos e vamos participar de todos se deus quiser.



  1. A prefeitura manifesta interesse na preservação e manutenção da Banda?

Através do senhor prefeito Osvaldo, a prefeitura vem ajudando sim, mas infelizmente, há uns anos atrás não tivemos recursos e tivemos que caminhar com nossas próprias pernas para que a banda não parasse.



  1. Quais instrumentos compõe a Banda?

Trombone, trompete, tuba, clarinete, sax alto, sax tenor, bombardino, bateria, bumbo e pratos.



  1. Qual a idade para ingressar na Banda?

De 8 à 9 anos, porque com essa idade já estão sabendo a ler e escrever, onde é muito importante para aprender a música.



  1. Qual a importância de manter viva a tradição desse tipo de Bandas musicais?

É muito importante sim, manter essa tradição, porque a Banda de Música Santa Cecília é a única cultura viva em nossa cidade há mais de 60 anos sem parar, trazendo alegria para São Gonçalo do Pará.



  1. Uma pessoa que passou pela banda e que você acha importante para a história da banda?

Eu acho importante todos os que já passaram por aqui, mas na minha visão, um dos mais importantes foi o Carlos Ribeiro da Silva, porque ele brigou para que hoje a banda tivesse essa sede.



Agradecimentos do Maestro:

Primeiramente, gostaria de agradecer a Débora por essa oportunidade de estar falando da Banda de Música, você que já tá aqui fazendo parte dessa história há 11 anos, agradecer a todos os músicos, hoje a gente conta com 30 músicos aqui na Banda de Música e agradecer a todos que já passaram por aqui e fazem parte dessa história há mais de 60 anos; eu fico muito orgulhoso em fazer parte dela já há 29 anos. Muito obrigado.


Entrevista 



Histórico da Banda Santa Cecília


 Maestro: Carlos da Silva

Presidente: Fernanda da Silva Melo


Banda de Música Santa Cecília 


   Há muitos anos, a Banda de Música Santa Cecília tem estado presente em comemorações religiosas, cívicas e festas em geral. Existem narrações que um dos primeiros maestros do povoado de São Gonçalo do Pará se chamava Professor Agostinho. Houve também o maestro Higino Pereira que foi mestre do Sr. Antônio  Ribeiro da Silva (pai de Carlos Ribeiro da Silva) na arte musical.  Antônio Ribeiro da Silva foi maestro por cerca de 15 anos.   Carlos Ribeiro da Silva permaneceu como o maestro de 1986 a 1996. 

   A ata de fundação da Banda de Música Santa Cecília  data 12 de julho de 1979. Foram elaborados o Estatuto e Contrato Social nessa mesma data.  Recebeu declaração de utilidade pública pela Lei Municipal 889. Foi registrada em cartório no dia 11 de dezembro de 1979, com a autorização da Secretaria Estadual da Cultura.

  Em 1997, a regência da Banda Santa Cecília ficou e sob o comando do músico Edwaldo Rildo de Melo, que também é professor de música.

 Em 1996, foi criada a sede própria da Banda no prédio da Casa da Cultura, cuja sala recebe o nome de José Reinaldo da Silva. Situa-se na rua 1º de Janeiro, nº80 no centro da cidade. O atual maestro é Carlos da Silva e a presidente Fernanda Silva Melo. A Banda de Música Santa Cecília conta hoje com a média de trinta integrantes. 


Integrante mais jovem:  Sofia Elen Silva                  idade:  10 anos

Músico mais velho:  Waldech José de Melo                  idade: 70 anos

Observação: Ambos da mesma família


Encontro de bandas no Município de São Gonçalo do Pará - MG 
Janeiro 2020



Texto, imagens e vídeo por: Débora Sara de Andrade Mota 

Revisão e postagem por: Débora Sara de Andrade Mota 

Entrevista por: Débora Sara de Andrade Mota 

Transcrição da entrevista: Gabriel Artur Aparecido Fonseca 


Referência 


ALMEIDA, José Robson Maia de. Tocando o repertório curricular: bandas de música e formação musical. 2010. 147f. Dissertação (Mestrado em Educação) Universidade Federal do Ceará, Faculdade de Educação, Programa de Pós-Graduação em Educação Brasileira, Fortaleza-CE, 2010. Disponível em: <http://www.repositorio.ufc.br/handle/riufc/3302> Acesso em 02 de agosto de 2021.

CHAGAS, Robson Miguel Saquett; LUCAS, Glaura. Transmissão do saber e relações sociais nas práticas musicais das bandas civis de música. XXIV Congresso da Associação Nacional de Pesquisa e Pós-Graduação em Música - São Paulo - 2014.

GONÇALVES, A. M., COELHO, M. P., CHAVES, S. R., RIBEIRO, S. R., FRADE, R. M., & VIEIRA-SILVA, M. O papel social das bandas de música no Campo das Vertentes. In XV Encontro Nacional da Abrapso: Psicologia Social e Políticas de Existência Fronteiras e Conflitos. Maceió: UFAL, AL, Brasil, 2009

PINTO, Tales dos Santos. A chegada da corte e música no período joanino. Uol. Disponível em: https://mundoeducacao.uol.com.br/historiadobrasil/a-chegada-corte-musica-no-periodo-joanino.htm Acesso em: 03 de out. de 2021

TEMPOS HISTÓRICOS. Paraná: Unioeste, v. 25, n. 1, ago. 2011. Semestral. Disponível em: https://dialnet.unirioja.es/descarga/articulo/6798375.pdf. Acesso em: 03 ago. 2021.

VERENA, A. Manual de história Oral. 3. ed. Rio de Janeiro, FGV, 2015.




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