A história de Minas Gerais já está bem consolidada na sociedade brasileira e principalmente entre os mineiros, períodos históricos como o ciclo do ouro fazem parte de capítulos de livros didáticos, artigos, produções audiovisuais etc. Mas algo que passa despercebido diante dessa história tão vasta são os mapas que representavam o território de Minas Gerais nessas épocas. Quando olhamos o mapa de Minas e nos deparamos com uma grande porção de terra anexado a um “nariz” a oeste, temos a impressão que desde o período colonial já era um território bem consolidado devido a geografia de suas fronteiras territoriais naturais. Fato é que a representação de Minas em mapas sofreu diversas mudanças ao longo dos anos, sempre como um reflexo político e econômico de Minas Gerais ao longo dos séculos.
Nos séculos XVI e XVII, não houve nenhum mapa destacando o território onde hoje conhecemos como Minas Gerais, pelo fato do eixo econômico e demográfico do Brasil estar concentrado no litoral, ainda não havia muitas expedições para o interior da colônia. Mas esse cenário mudou no início do século XVIII, onde Minas se tornou a base econômica da colônia devido a abundancia de ouro e metais preciosos presentes nas montanhas mineiras. Em 1720, surge a capitania de Minas Gerais, ganhando autonomia da capitania de São Paulo. Por agora Minas Gerais ser uma importante fonte de riqueza, o Império Português passa a tratar de forma diferente esta região, eis que a mando da coroa, dois jesuítas que ficaram conhecidos como “padres matemáticos” foram responsáveis por mapearem a região, mapas esses datados no ano de 1734.
Ainda no século XVIII, surge a figura de José Joaquim da Rocha, um militar nascido em Portugal que foi o responsável por uma grande evolução nas representações da capitania em mapas. No ano de 1778, foi apresentado por Rocha o mapa completo da capitania de Minas Gerais e também os mapas detalhados de suas 4 comarcas (Sabará, Serro Frio, Rio das Mortes e Villa Rica). Os mapas de José Joaquim da Rocha possuíam uma boa precisão cartográfica e havia a presença de praticamente todas as vilas, arraiais, aldeias indígenas e rios da capitania.
No início do século XIX já houveram mudanças significativas no território de Minas Gerais, uma delas foi a transformação do território de capitania para província, fato que ocorreu logo após a independência do Brasil, outra mudança significativa no território mineiro foi a delimitação territorial com a província de Goiás, na qual o “nariz” de Minas, o triângulo mineiro, foi incorporado ao território. Algo que já pode ser observado no mapa abaixo datado no ano de 1855.
Já no início do século XX, a tecnologia cartográfica já tinha avançado muito, e os mapas estavam quase tão fieis quanto os da contemporaneidade. No mapa a seguir, organizado por Hartmann-Reichenbach, que foi datado do ano de 1911; podemos observar que se assemelha muito com os mapas físicos e representações por satélites que conhecemos hoje de Minas Gerais. Sem mudanças significativas territoriais, é interessante destacar que este mapa já tem destacado as linhas férreas da época em vermelho.
As representações cartográficas de Minas Gerais ainda é um tema bastante rico e tende ainda ser bastante explorado, sabido que mapas não são apenas “desenhos”, mas sim representações que nos possibilitam conhecer um território e todo o seu contexto histórico, político, econômico, geográfico e demográfico na qual está inserido.
Texto e imagens por: Gabriel Artur Aparecido Fonseca
Revisão e postagem: Débora Sara de Andrade Mota
REFERENCIAS:
BASTOS, Regina Gonçalves; PATROCINIO, Winnie Parreira. Representações geo-histórias de Minas Gerais por meio da Cartografia. Caderno de Geografia, PUC-MG, v.30, n63, 2020.
CASTRO, José Flávio de Morais. Geoprocessamento de mapas de Minas Gerais nos séculos XVIII e XIX. Belo Horizonte. Ed. PUC-MG, 2017.
FURTADO, Júnia Ferreira; FONSECA, Cláudia Damasceno. A construção cartográfica de Minas Gerais. In: MENESES, José Newton Coelho. Orbe e Encruzilhada: Minas Gerais 300 anos. Editora UFMG: Belo Horizonte, 2020, p. 21-49.
FURTADO, Junia Ferreira. Um cartógrafo rebelde? José Joaquim da Rocha e a cartografia de Minas Gerais. Anais do museu paulista, São Paulo, v. 17, n. 2. 2009.
Comentários
Postar um comentário