Entrevista com Emanuelle Diniz Camargos, coordenadora do Coletivo Feminista Flores do Asfalto da Universidade do Estado de Minas Gerais.
Entrevista com Emanuelle Diniz Camargos,
coordenadora do Coletivo Feminista Flores do Asfalto da Universidade do Estado
de Minas Gerais.
Faça uma breve apresentação sobre você
Meu nome é Emanuelle Diniz Camargos, tenho dezenove
anos e sou estudante do terceiro período de psicologia noturno da Universidade
do Estado de Minas Gerais - Unidade Divinópolis. Atualmente sou estagiária de
psicologia na minha cidade natal, faço estágio na área criminal, atuando na
Delegacia de Polícia Civil de Itaúna. Sou uma das coordenadoras financeiras do
Centro acadêmico de Psicologia em nossa UEMG - Divinópolis, além de ser uma das
coordenadoras do Coletivo Feminista Flores do Asfalto em nossa unidade, junto a
outras duas mulheres: Laura Lobato Araújo e Mariana Rodrigues Moraes Lima.
Me fale um pouco da sua vivência como mulher na
sociedade atual
Sempre estive inserida em espaços extremamente
machistas como a igreja que eu costumava frequentar na adolescência e meu
contexto familiar,atualmente no meu trabalho e convívio é comum presenciar
inúmeras deslegitimações de mulheres nos ambientes, sendo assim sempre possuo
uma conduta ativa para minimizar possíveis abusos, assédios e diversos tipos de
agressões destinadas as mulheres. porém, não é tarefa fácil ser mulher em uma
sociedade patriarcal, misogena e com tendências fascistas, é preciso ceder
espaço para que as vítimas tenham voz ativa, trazendo transformações.
Quando e porque você viu a necessidade do coletivo
feminista dentro da Universidade? E qual a motivação do coletivo feminista?
O Coletivo Feminista Flores do Asfalto, sediado na
Avenida Paraná, nº 3001, no bairro Jardim Belvedere, da cidade de Divinópolis,
no Estado de Minas Gerais, é uma associação sem fins lucrativos da Universidade
do Estado de Minas Gerais – Unidade Divinópolis. O coletivo surgiu em 2020, em
homenagem a vereadora Marielle Franco, foi dado o nome de Flores do Asfalto,
temos como missão contribuir para o empoderamento das mulheres e das meninas,
promovendo seus direitos humanos e sua cidadania plena, com respeito às
diferenças e à justiça social. Desta forma, esta associação acolhe todas as
mulheres, independentemente do seu sexo biológico, de sua raça, de sua
orientação sexual e de sua classe social. A ideia do coletivo partiu de
diversas alunas da UEMG, que perceberam a necessidade desse movimento no
ambiente acadêmico. Almejamos a igualdade de gênero, levando em conta. Tendo em
vista que toda a discriminação e violência contra as mulheres. Sendo que não é
somente uma questão de gênero, mas também de raça, classe, orientação sexual e
transfobia, o coletivo tem como fundamento se empenhar em lutar pelas várias
vertentes que existem dentro do feminismo.
Qual foi a experiência na criação do movimento até
sua execução de fato?
Desde a roda de conversa que deu início ao Coletivo
Flores do Asfalto em 2020, um dos maiores obstáculos que enfrentamos foi a
ausência de interação entre as participantes do movimento, devido a realidade
vivenciada nestes tempos de pandemia. O contexto atual dificulta a maior parte
dos processos dentro da luta feminista, tornando difícil a democratização dos
espaços. Mesmo com tal dificuldade temos conseguido planejar futuras atividades
e estamos aproveitando o momento para conhecermos as inúmeras realidades das
mulheres envolvidas no coletivo e na comunidade.
Como você atua na sociedade fora da faculdade sobre
essa luta?
Meu papel ao reconhecer meus privilégios é abrir
lugar para que mais mulheres tenham voz para expor suas existências e exigir
direitos. Quando considero meu contexto atual, eu me empenho para que as
mulheres que chegam até mim sejam tratadas com respeito e empatia, em casos de
violências eu oriento sobre os direitos que elas tem e as encaminho para a
delegacia da mulher, além de escutar o que as meninas e mulheres a minha volta
tem a dizer, sem julga-las e comparações. É preciso ressaltar a importância de
apoiar e levantar outras mulheres para que sigam seus sonhos.
Como você vê a representatividade feminina na
sociedade atual levando em consideração a mídia e a política por exemplo?
Comparado com um passado próximo, tal
representatividade vem sendo mais apresentada abertamente; porém há um longo
caminho a ser trilhado, pois muitas vezes sabe-se que o capitalismo se
aproveita desse espaço para uma certa manipulação da imagem das mulheres.
Contudo, depois da ascensão feminina em funções importantes na sociedade
brasileira, é possível notar que muitas mulheres estão assumindo papeis de
controle sobre suas próprias jornadas.
Qual a importância dessas representações para as
gerações mais novas?
É de suma importância para as crianças perceberem a
atuação da mulher na sociedade como agente ativo na construção de mundo, com
isso as novas gerações terão certeza que podem ser quem e o que desejarem. O
processo de ensino-aprendizagem na infância deve ser voltado para o respeito e
empatia com o outro, para que se desenvolvam livre de preconceitos e
violências. A representatividade nos âmbitos políticos, sociais, econômicos e
nas mídias é o que impulsiona e motiva as futuras aspirações destas crianças.
Como você enxerga a mulher na sociedade na atual
conjuntura do Brasil, levando em consideração a política e a pandemia?
A mulher nos últimos anos tem ocupado alguns cargos
de importância na sociedade, além de estar conquistando espaços no mercado de
trabalho; é perceptível a competência e compreensão das mulheres nestas
funções. Este é um dos primeiros passos para revolucionar o contexto atual que
vivemos, há ainda muito a se fazer para desconstruir o sistema que vivemos e o
patriarcado opressor que foi instaurado por toda a história.
Como você acha que se deve reagir em situações de
assedio?
Não há uma forma considerada correta ao reagir a um
assedio normalmente tal situação coloca a vítima em sentimento de inferioridade
e constrangimento, logo não se pode planejar uma atitude; além de que, reagir a
uma atitude como essa pode levar a outros tios de violências e importunações.
Contudo, se a pessoa foi vítima de uma situação como essa, o orientado é que a
mulher vá até a delegacia mais próxima ou ligue para a polícia para fazer um
boletim de ocorrência e demais providencias cabíveis, não se deve calar ao
presenciar um assédio, abuso, estupro ou importunação sexual.
Como você vê a importância de incitar debates sobre
o feminismo na educação básica? E como instigar os alunos para essas injustiças
pautadas no gênero?
A escola é a base de todo indivíduo contemporâneo,
é neste espaço que a criança tem suas primeiras noções de mundo e de sociedade,
onde aprendem a compartilhar e a respeitar diferenças. O ambiente escolar tem
grande influencia no desenvolvimento humano, tratar assuntos de cunho
feministas neste espaço é, sem dúvidas, contribuir para um futuro com maior
equidade. Abordar as realidades existentes na sociedade com os estudantes de
acordo com o grau de instrução que possuem é de extrema necessidade. Os vários
tipos de preconceitos podem ser derrubados com conhecimento e as violências
podem ser extinguidas com instrução adequada e profissionais capacitados para
repassar conceitos importantes de genro, sexualidade, papeis sociais, mercado
de trabalho e outros.
O movimento trabalha questões de
interseccionalidade de gênero e sexualidade. Qual a importância dessa relação
para o movimento?
A sexualidade humana é ampla e distinta,
hodiernamente é comum observar inúmeros tipos de preconceitos e violências para
com as pessoas que fogem da heteronormatividade e cisgeneridade. Nosso dever
como coletivo feminista é abraçar estas causas e trazer conforto para quem
sofre os diversos tipos de opressão. É preciso, além de oferecer visibilidade e
espaços para serem ocupados por essas pessoas, levantar pautas para abranger
conhecimento acerca dos assuntos que envolvem essa comunidade. Resultando em
quebra de preconceitos e desconstrução de paradigmas opressores que provem de
décadas a fio.
Recomendações: Filmes, series,
livros...
Livros: Mulheres que correm com os lobos de
Clarissa Pinkola Estés
Feminismo para os 99% de Tithi Bhattacharya, Cinzia
Arruzza, Nancy Fraser
O mito da beleza de Naomi Wolf
O segundo sexo de Simone de Beauvoir
Documentário: Casamento infantil. Dir. Raphael
Erichsen. 2018
Texto e entrevista por: Millena Rezende
Olá, somos o Coletivo Feminista Flores do Asfalto da UEMG - Unidade Divinópolis. Nossas atividades tiveram início em 2020, mas com a chegada da pandemia de Covid-19 vivida até os dias atuais, o Coletivo permaneceu adormecido por alguns meses. Por isso, nosso primeiro passo para retomar a luta é exatamente conhecer as futuras organizadoras e participantes desse movimento! Você conhece o feminismo? Quer fazer parte do movimento e apoiar outras mulheres? Reconhecer a realidade e questioná-la é o primordial para a revolução! Responda ao nosso questionário caso queira se engajar nesse movimento, seja como organizadora, associada ou participante. Contamos com você! Link para o formulário: https://forms.office.com/r/
Comentários
Postar um comentário