A
celebração religiosa, cultural, histórica e tradicional denominada Festa de
Santa Cruz remete a aspectos simbólicos cristãos – a Cruz –, mas também à
comunhão e fraternidade das comunidades que a celebram. Nos diferentes lugares onde ocorre a
Festa de Santa Cruz são realizadas novenas ou trezenas por populações que têm
um modo de vida tradicional – antes do dia máximo da festa, sendo, portanto,
uma festividade típica da religiosidade popular dessa região de Minas Gerais,
permeada por muita fé e crença no poder milagroso da Cruz. Essa
tradição persiste em muitas comunidades rurais, e as festas religiosas no
Cruzeiro continuam a ser realizadas pela população, muitas vezes de forma
autônoma em relação à Igreja Católica.
A Festa
de Santa Cruz é uma das principais celebrações religiosas de Igaratinga, centenária,
ocorrendo não somente da sede, mas também nas zonas rurais do Município, como
em Pedra Negra de Baixo. Segundo Maria das Graças e José Carlos (Mestres do Saber
do Município), a festa ocorre em maio, tendo duração de um único dia – 03
(três) de maio. Ainda segundo os referidos entrevistados, a arrecadação da
festa era direcionada à Igreja – cujo bispo recebia 10% – e à comunidade.
O rito se
configura pelo hasteio da bandeira, a reza do terço e a fogueira, nesta ordem.
O festeiro é o responsável pelo hasteio da bandeira e pela sua guarda. O terço
é rezado no dia em que se levanta a bandeira, que fica exposta por 07 (sete)
dias após a realização da festa, e a comunidade se reúne na Cruz todos os
finais de semana durante o mês de maio para rezar. Atualmente, a festa não
possui barraquinha, mas soltam-se fogos e há a coroação das crianças –
“Coroação de Maria”, que se caracterizam de anjos. Todo o processo festivo
mencionado anteriormente é característico de Pedra Negra de Baixo, podendo ter
acréscimos ou modificações a depender da região do Município em que se realiza.
De acordo
com Antônio José (seu Tunico, Mestre do Saber), as comemorações se dão em datas
diferentes a depender do local: no Cruzeiro da Mariana, acontece no 2º
(segundo) fim de semana após dia 03 (três) de maio; enquanto no Buracão, no 1º
(primeiro) fim de semana após dia 03 (três) de maio. Quando realizada no
Cruzeiro da Mariana, contava com a participação do Congado, o qual seguia em
procissão até a Igreja Matriz, e auxiliava os fiéis a realizarem as promessas
que tinham feito – as pessoas rodeavam a Igreja, às vezes ajoelhadas, como
forma de “pagar” tais promessas.
Por fim,
cabe destacar que apesar da amplitude e alcance dessa tradição, presente em
muitos locais do Centro-Oeste Mineiro, há especificidades de acordo com
características da população local. Em Igaratinga, sempre há muita cantoria,
fogueiras, rezas e adornos – como bandeirinhas – que enfeitam os cruzeiros. A
Festa de Santa Cruz, e outras tradições como o Reinado, dizem muito sobre a
comunidade de Igaratinga, suas crenças e modo de vida, auxiliando no
reconhecimento de sua história, na valorização de suas memórias e no
fortalecimento da identidade cultural local.
REFERÊNCIAS:
Entrevistas de campo realizadas
com Sra. Maria das Graças Ferreira, Sr. José Carlos Ferreira, Sr. Antônio José
Fernandes Neto, Sr. Baltazar Ferreira dos Santos, Sr. Antônio Ferreira dos
Santos e Sr. Mozar Gerônimo de Camargos, Mestres do Saber do Município de
Igaratinga, em 2020.*
*As entrevistas foram realizadas no contexto do Programa ICMS
Patrimônio Cultural, desenvolvido pela Prefeitura Municipal de Igaratinga e
convênio com a Universidade do Estado de Minas Gerais através do Centro de
Memória – CEMUD. O levantamento de dados foi realizado por Flávia Lemos Mota de
Azevedo (Mestre em História e Professora da UEMG – Unidade Divinópolis) e
Fernando Cordeiro dos Santos (Graduando em História na UEMG – Unidade
Divinópolis).
Imagens: Registros fotográficos de cruzeiros do Município de
Igaratinga, locais onde ocorre a Festa de Santa Cruz. Autores: Alexandre de
Faria Silva, Flávia Lemos Mota de Azevedo e Fernando Cordeiro dos Santos.
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