Quando
falamos em política, acabamos por referir, mesmo que implicitamente, aos
movimentos sociais de resistência e estes também estão inclusos no futebol. Assim,
o texto de hoje tem como objetivo demonstrar alguns casos que já aconteceram
dentro dos campos, como protestos e homenagens dos times e dos próprios
jogadores.
Em
2014, durante uma partida do Campeonato Espanhol, Daniel Alves, jogador
brasileiro, sofreu diversas ofensas da torcida adversária e acabou com bananas
sendo arremessadas em sua direção. Em resposta, Daniel pegou uma banana antes
de cobrar o escanteio e a comeu, continuando a jogar como se nada tivesse
acontecido. Esse ato racista que Daniel sofreu mobilizou a internet e diversos
artistas, jogadores e diversas personalidades postaram foto com uma banana em
apoio a ele.
Também
em 2014, o volante do Cruzeiro naquela época era o jogador Tinga, que acabou
sofrendo racismo durante a disputa da Libertadores. Quando ele tocava na bola,
a torcida do time adversário, Real Garcilaso, imitou sons de macacos. O jogador
deu o seguinte depoimento a Rádio Globo após o fim da partida:
‘’Fico muito chateado. Joguei quatro anos na
Alemanha e nunca passei por isso. Agora acontece em um país parecido com o
nosso, cheio de mistura. Trocaria um título pela igualdade entre raças e
classes e respeito.’’
Um
caso mais atual que repercutiu bastante, foi o que aconteceu em dezembro de
2020, em uma partida pela entre o PSG e o Istanbul Basaksehir, houve um
acontecimento histórico quando os jogadores dos dois times deixaram o campo
após a ofensa racista feita pelo quarto árbitro.
Marta,
a maior representante do futebol feminino nacional e internacionalmente, é uma
grande apoiadora da causa feminista. Em 2019, no Mundial da França, entrou em
campo sem nenhum patrocínio em sua chuteira preta, ao contrário, ela utilizou a
logo rosa e azul do da Go Equal, uma entidade que luta pela equidade de gênero.
Marta ao fazer gol que garantiu a vitória do Brasil sobre a Austrália, apontou
para a chuteira.
A
jogadora da seleção brasileira, Cristiane, já deu diversas entrevistas narrando
os diversos casos de machismo que já sofreu como jogadora de futebol. Ela
relata:
‘’Existe
um grupinho que me manda trabalhar em outra profissão, diz que futebol não é
coisa de mulher ou tenta desmerecer meu trabalho. Só sei que fazem isso porque
não são capazes de fazer o que eu faço.’’
E
Cristiane continua dizendo que escuta tais comentários desde a infância:
‘’Eu
era a única menina da vizinhança a jogar com os meninos. Eles só brigavam
comigo quando perdiam ou levavam drible, mas nada disso me deixava chateada. No
dia seguinte, lá estava eu jogando novamente’’.
Sobre
o machismo no futebol brasileiro, Cristiane aponta que não sofreu isso quando
jogou em outros países, e que inclusive percebeu que eles a recebem muito
melhor do que presencia no Brasil.
Apesar
desses dois temas, racismo e machismo, serem as principais pautas vistas no
futebol atualmente através das lutas feministas e antirracistas, o futebol não
para por aí.
Casais
homossexuais já sofreram muito preconceito nos estádios, inclusive em 2019,
durante um jogo do Cruzeiro, um casal gay foi alvo de piadas e zoações por
parte da própria torcida após assistirem o jogo abraçados. Os dois registraram
um boletim de ocorrência para a política identificar os seus agressores
virtuais.
No
jogo de 2019 entre Vasco e São Paulo, o árbitro Anderson Daronco paralisou o jogo
após gritos homofóbicos vindo das torcidas.
Renata
Ruel, que já foi assistente em jogos, relatou diversos desses momentos que
presenciou nos jogos e disse em sua coluna para a ESPN:
‘’Quem acompanha o futebol sabe que cantos assim são
comuns em alguns estádios e partidas, não somente no Brasil, são formas de
provocar o adversário, alguns podem até mesmo cantar por entrarem na onda e no
clima da torcida, não por serem homofóbicos, mas hoje isso não é permitido, é
considerado crime e as equipes podem ser punidas até com perda de pontos. Ser
comum não pode ser confundindo com ser algo normal. Nenhum tipo de preconceito
é normal, seja ele qual for. A CBF lançou recentemente a campanha de respeito
aos árbitros, mas o respeito deve ser mútuo, ou seja, árbitros, jogadores,
adversários, torcedores, dirigentes, jornalistas, independente de classe
social, gênero, religião, idade, estatura, cor dos olhos, pessoas com algum
tipo de deficiência, respeitar sempre as diferenças, seja ela qual for, é
relevante para todo o tipo de convívio. Respeito é a palavra-chave, além de
normal, ela deve se tornar comum. Que isso sirva de aprendizado para todos,
para um futebol e uma sociedade melhor. O que antes poderia ser uma ‘brincadeira’
para alguns, hoje é crime.’’
Atualmente, vemos cada vez mais os times engajados a
rejeitarem tais situações de preconceitos e se engajarem mais com as causas
sociais. Através das redes, podemos acompanhar os times mineiros defendendo e
debatendo tais pautas.
Como diz a famosa frase: não é apenas futebol!
Futebol é política, é resistência e é alegria! Devemos
compreender seus aspectos e promover sempre mudanças para que o esporte seja
para todas as pessoas!
Texto por: Rafaela Teixeira Nunes
ALVO de racismo na Espanha, Daniel Alves come banana jogada por torcedor. VEJA, 2014. Disponível em.: /https://veja.abril.com.br/esporte/alvo-de-racismo-na-espanha-daniel-alves-come-banana-jogada-por-torcedor/. Acesso em.: 12 de mai. de 2021.
TINGA
é vítima de racismo em jogo do Cruzeiro pela Libertadores no Peru. NSC total,
2014. Disponível em.: https://www.nsctotal.com.br/noticias/tinga-e-vitima-de-racismo-em-jogo-do-cruzeiro-pela-libertadores-no-peru.
Acesso em.: 12 de mai. de 2021.
JOGADORES do PSG
e Istanbul Basaksehir deixam jogo após acusação de racismo. Globo.com, 2020.
Disponível em.: https://globoesporte.globo.com/futebol/futebol-internacional/liga-dos-campeoes/noticia/jogadores-do-psg-e-istanbul-basaksehir-deixam-jogo-apos-suposto-caso-de-racismo.ghtml.
Acesso em.: 12 de mai. de 2021.
CRISTIANE
diz que só sofreu machismo como jogadora de futebol no Brasil. UOL, 2019.
Disponível em.: https://www.uol.com.br/esporte/futebol/ultimas-noticias/2019/03/07/cristiane-fala-sobre-o-machismo-vivenciado-no-brasil-por-jogar-futebol.htm.
Acesso em.: 12 de mai. de 2021.
VEJA momentos em
que a homofobia ecoou e foi mau exemplo no futebol. Lance!, 2019. Disponível
em.: https://www.lance.com.br/galeria-premium/momentos-que-homofobia-ecoou-foi-exemplo-negativo-futebol.html.
Acesso em.: 12 de mai. de 2021.
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