RELATO: Abigail de Rezende Guimarães nasceu aos 09 de julho do ano de 1941 na Fazenda das Perobas, onde passou a maior parte da sua infância. Ela ainda diz acreditar que o fato de ser uma localidade entre montanhas, influenciou diretamente em seu jeito introvertido de ser.
"Eu e o Silvio (irmão) vivíamos mais sozinhos, só nós dois. Eu tinha muito medo das coisas. Como eu nasci na época da guerra, eu tinha dois anos e estava terminando a guerra né? Eu tinha muito medo dela! Eu me lembro de uma vez que o Roberto (irmão) estava fazendo alistamento militar e eles falaram que ele iria para a guerra, e nem guerra existia mais [risos]. Mas um dia ali atrás (da montanha) deu um vermelhão no céu e eu achei que era a guerra e que o Roberto estava indo. Minha infância não foi uma infância de muita brincadeira porque eu vivia ali atrás, onde hoje é a horta de couve, brincando de escolinha. Eu acho que foi por isso que eu aprendi a ler sozinha. Não sei quem me ensinou a ler, mas com quatro anos eu já lia e escrevia. Nos primeiros anos da minha vida passei aqui e na casa da vovó. Eu tenho de lá lembranças muito agradáveis, aquelas brincadeiras de pique naquele casarão enorme sabe? Lá tinha um cachorro chamado Bronze e lá tem um corredor de zigue-zague, de um lado os quartos e do outro lado outros quartos e ele saía na sala. O Bronze deitava nesse corredor, então quando a gente estava correndo no pique que encontrava com ele era pego na certa, porque a gente voltava e caía dos braços de quem estava pegando”. Abigail ainda completa que seu irmão Sílvio possuía muito medo da casa à noite porque diziam que, por ser uma casa onde havia tido escravos, haviam muitas “assombrações”. “Quando eu era criança, eu lembro do meu pai. Ele era muito político e adorava a política sabe? Eu lembro que tinham as discussões, cada um tinha o seu partido e tal. Meu pai sempre foi de direita”. Além disso, “as eleições estaduais e de governo repercutiam mais que a do município [...] meu pai gostava muito de discutir política, os homens sempre vinham para cá discutir e tal”. “Eu era muito pequena mas lembro deles falarem nos tais dos integralistas, do Plínio Salgado e o outro era aquele que andou pelo Nordeste, marido da Olga... o Carlos Presetes! E meu pai discutia muito isso e as consequências disso no país. Naquele tempo não tinha rádio nem energia elétrica, nem sei como que ele ficava sabendo desses trem não sabe? A gente não tinha comunicação nenhuma com o mundo exterior. O mundo era só isso aqui, era um mundinho muito pequeno... Eu me lembro mais do meu pai do que da minha mãe. Acho que porque quando nasci ele já estava muito doente, ele morreu de malária. Ele tinha muitas crises e as vezes ficava em casa e me criou mais, porque a mãe no batente, trabalhava sem parar!”
Obs.: A foto, assim como o relato, foram postados com o consentimento de Abigail.
Texto produzido por Rafaela Guimarães
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