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ITABIRA: A TERRA MINEIRA DE CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE



‘’Alguns anos vivi em Itabira.

Principalmente nasci em Itabira.

Por isso sou triste, orgulhoso: de ferro.

Noventa por cento de ferro nas calçadas.

Oitenta por cento de ferro nas almas.

E esse alheamento do que na vida é porosidade e comunicação.

A vontade de amar, que me paralisa o trabalho,

vem de Itabira, de suas noites brancas, sem mulheres e sem horizontes.

E o hábito de sofrer, que tanto me diverte,

é doce herança itabirana.’’ [...]

— Carlos Drummond de Andrade


        Itabira é um município do interior de Minas Gerais e apesar de se destacar com o setor mineral, também é conhecida por ser berço do famoso poeta, Carlos Drummond de Andrade.


HISTÓRIA DE ITABIRA:

        Dois mineradores aventureiros paulistas e descendentes de bandeirantes, Francisco e Salvador Faria de Albanaz, buscavam escravos e descobriram certas minas na região. Não se sabe por quanto tempo eles a desfrutaram sozinhos, mas logo a fama se espalhou e mais pessoas se juntaram, aumentando a concorrência. Pequenas habitações começaram a surgir em torno das margens dos córregos que corriam ao pé do Pico do Cauê e por ocuparem territórios indígenas, ataques e conflitos entre os nativos eram comuns. No século XVIII, esses povoados já tinham começado a se desenvolver e foram batizados de Sant’Ana do Rosário. Em 1827, ela estava livre de ataques indígenas, pois a chegada do Destacamento os dizimou. 


        Apesar da mineração ter entrado em declínio, isso não interferiu no aumento da população, pois com o tempo, o ouro deu lugar a uma nova riqueza mineral que caracteriza a vida econômica até hoje da cidade, o ferro.





Jazida do Cauê – Itabira, 1952


        Saint-Hilaire, um importante viajante francês que percorreu o Brasil, disse que as reservas de Itabira bastavam para suprir integralmente todo o mundo por séculos. Devido as suas serras, montes e picos repletos de riquezas minerais, permitiu que as tradicionais famílias possuíssem um elevado padrão econômico e construíssem residências de estilo colonial, que ainda estão presentes e dão à cidade uma característica senhoril única. 

        O povoado de Sant’Ana em 1827 foi elevado à categoria de vila e em 1848, para cidade com o nome de Itabira, que se origina na língua tupi com o significado de ‘’pedra brilhante’’ (ita – pedra, byra – que brilha). 

        Atualmente Itabira é composta de 109.783 habitantes (censo de 2010) e possui a densidade demográfica de 87,57 hab/ km². O setor mineral ainda é forte e move a economia da cidade, mas o turismo também se destaca por suas belas paisagens naturais e é claro, pela história do poeta e cronista, Carlos Drummond de Andrade. 




HISTÓRIA CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE


        No dia 31 de outubro de 1902, no interior de Minas Gerais na cidade de Itabira, nascia um dos maiores poetas brasileiros do século XX, Carlos Drummond de Andrade. 


Mundo mundo vasto mundo,

se eu me chamasse Raimundo

seria uma rima, não seria uma solução.

Mundo mundo vasto mundo,

mais vasto é meu coração.



        Filho de proprietários rurais, Carlos de Paula Andrade e Julieta Augusta Drummond de Andrade, com 14 anos ingressou em um colégio interno em Belo Horizonte, mas por problemas de saúde, voltou para Itabira, onde teve aulas particulares. Com 16 anos, mudou-se para o Rio de Janeiro para estudar em outro colégio interno. 

        Desde a infância, Carlos se destacou com seus artigos e contos. Com 20 anos, ganhou um prémio no    ‘’Concurso da Novela Mineira’’ ao concorrer com seu conto Joaquim do Telhado.  Aos 21, se matriculou no curso de Farmácia em Belo Horizonte e com 23 anos, se formou e fundou A Revista, que se tornou um importante precursor do Modernismo Mineiro. 

        Em Itabira, Drummond deu aulas de Português e Geografia, mas não se adaptou bem a vida no interior, então voltou para Belo Horizonte e virou redator no Diário de Minas. 


No meio do caminho tinha uma pedra

tinha uma pedra no meio do caminho

tinha uma pedra

no meio do caminho tinha uma pedra.


Nunca me esquecerei desse acontecimento

na vida de minhas retinas tão fatigadas.

Nunca me esquecerei que no meio do caminho

tinha uma pedra

tinha uma pedra no meio do caminho

no meio do caminho tinha uma pedra.


        O célebre poema feito por Drummond, No Meio do Caminho, publicado em 1928 na Revista da Antropofagia, causou um escândalo e fortes críticas da imprensa. Não consideravam tais versos uma poesia e sim, uma provocação. De caráter simples e linguagem comum, Drummond foi duramente julgado pelas diversas repetições que utilizou. 


 


        Apesar disso, ele não parou. Considerado um poeta da Segunda Geração Modernista, trabalhou em    cargos públicos e continuou produzindo poesias, contos e crônicas. Seu estilo irônico e humorístico abordava questões existenciais, sociais, religiosas, amorosas e filosóficas, com um caráter pessimista. 


Que pode uma criatura senão,

entre criaturas, amar?

amar e esquecer, amar e malamar,

amar, desamar, amar?

sempre, e até de olhos vidrados, amar?

Que pode, pergunto, o ser amoroso,

sozinho, em rotação universal,

senão rodar também, e amar?

amar o que o mar traz à praia,

o que ele sepulta, e o que, na brisa marinha,

é sal, ou precisão de amor, ou simples ânsia?


Carlos se casou com Dolores Dutra de Morais e teve dos filhos, Maria Julieta Drummond de Andrade e de Carlos Flávio Drummond de Andrade, este último viveu apenas por meia hora (foi dedicado a ele o poema ‘’O que viveu meia hora’’). 



        Ao escrever crônicas para jornais do Rio de Janeiro, sua produção poética ganhava cada vez mais força. Em comemoração dos 40 anos do poema No Meio do Caminho, Drummond reuniu um material extenso que foi publicado em um livro chamado: Uma Pedra no Meio do Caminho - Biografia de um Poema.

        Nos anos 80, sua obra começou a ganhar espaço no cinema nacional e a música popular adaptou diversos versos em melodias. Em 1986, Drummond publicou um conjunto de entrevistas concedidas a Lya Cavalcanti em um livro chamado Tempo, vida, poesia. 

        No mesmo ano, Carlos sofreu de insuficiência cardíaca e passou catorze dias hospitalizado. No dia 05 de agosto de 1987, sua filha Maria Julieta morreu vítima de câncer. Completamente desestabilizado e abalado pela perda, Carlos Drummond de Andrade morreu doze dias depois no Rio de Janeiro, em 17 de agosto. 

        Seu legado se perpetua na História, comovendo e vivendo nos corações dos brasileiros. Carlos Drummond de Andrade é símbolo e referência nacional na poesia, orgulhando aqueles que conhecem a sua trajetória. 

        Itabira, sua cidade, possui o chamado Turismo em Poesia, que evidencia e homenageia os caminhos por quais Drummond passou. O percurso conta com vários pontos, entre eles os Caminhos Drummondianos, com 44 placas distribuídas pela cidade mostrando os locais citados nos poemas do autor.  O Centro Histórico de Itabira também é um lugar bastante simbólico que guarda fatos e casos da sociedade da cidade desde seu início. A Casa de Drummond também faz parte do turismo regional, onde morou a família do poeta, com quartos interligados e um jardim interno que causa curiosidade nos visitantes.



        Projetado por Oscar Niemeyer, Itabira também possui uma construção moderna que abriga a história de Drummond, chamado Memorial Carlos Drummond de Andrade.



        Para saber mais sobre os pontos turísticos que a cidade oferece e conhecer a fundo a história de Drummond, o site da prefeitura (https://www.itabira.mg.gov.br/) contém informações, lugares, dicas e agendas sobre o turismo na região. Existe também um site destinado especificamente à história de Drummond, (https://www.carlosdrummond.com.br/), com fotos, bibliografia, obras e diversos artigos para alimentar os leitores interessados na vida do poeta. 


De Itabira trouxe prendas diversas que ora te ofereço:

esta pedra de ferro, futuro aço do Brasil,

este São Benedito do velho santeiro Alfredo Duval;

este couro de anta, estendido no sofá da sala de visitas;

este orgulho, esta cabeça baixa...

Tive ouro, tive gado, tive fazendas.

Hoje sou funcionário público.

Itabira é apenas uma fotografia na parede.

Mas como dói!


Texto produzido por: Rafaela Teixeira 

REFERÊNCIAS: 

FRAZÃO, Dilva. Resumo da Biografia de Carlos Drummond de Andrade. eBiografia. Disponível em: https://www.ebiografia.com/carlos_drummond/. Acesso em: 13 de jan. de 2021.

ITABIRA. Portal do IBGE. Disponível em: https://cidades.ibge.gov.br/brasil/mg/itabira/historico. Acesso em: 14 de jan. de 2021.

MARCELLO, Carolina. Literatura Poesia 25 poemas de Carlos Drummond de Andrade. Cultura Genial. Disponível em: https://www.culturagenial.com/poemas-de-carlos-drummond-de-andrade/. Acesso em: 13 de jan. de 2021.

TURISMO. Prefeitura de Itabira. Disponível em: https://turismo.itabira.mg.gov.br/principal. Acesso em: 14 de jan. de 2021.

Imagens de Aline Maria Nunes dos Santos, IBGE e Google.



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